Quarta Criativa🦋 #33 o outro como espelho, a terra como voz
Edição dedicada às conversas com as plantas ✨
Ainda não conhece a newsletter Quarta Criativa da crisálida? Quer saber por que essa estrutura pode desbloquear sua criatividade? Tá aqui a estrutura explicadinha e lindinha só pra tu 💖
O Ovo: onde tudo é possível
(Se inspirar ou referências da semana)
🎥Vídeo: A câmera como espelho. Inspirada na frase de Susan Sontag — "a câmera nos torna todos turistas da realidade alheia e, eventualmente, da nossa própria realidade" — te proponho uma reflexão sobre o ato de fotografar como um gesto de escuta.
Olhar o outro com atenção é, muitas vezes, o primeiro passo para enxergar a si.
Testemunhar pode nos levar a uma jornada de autoconhecimento — porque aquilo que reconhecemos no outro já existia, de alguma forma, dentro de nós.
A câmera, aqui, deixa de ser um barreira entre quem vê e quem é visto e se transforma num portal: pra dentro, pra mais fundo, pra mais perto.
🎶Música: Triste, Louca ou Má — Francisco, El Hombre é uma descida às profundezas. É sobre ser mulher. É sobre recusar o que nos aperta — os papéis, as paredes, os nomes que não dizem quem somos. É um hino de insubmissão e retorno à essência.
Essa música fala de queimar o mapa como gesto de cuidado. De voltar às raízes pra lembrar que a nossa essência é muito mais profunda que qualquer molde imposto.
Não é sobre o que temos, mas sobre o que pulsa. Não é sobre o que nos deram, mas sobre o que somos. O que sempre fomos, muito antes de tudo que eles inventaram sobre nós.
“Prefiro queimar o mapa, traçar de novo a estrada, ver cores nas cinzas e a vida reinventar.”
Pra escutar de corpo inteiro.
🎨Arte: A fotografia Rivers of Hair (rios de cabelo) de Natalie Karpushenko é um mergulho em ancestralidade, intuição e cuidado como força coletiva.
“Quanto mais prestamos atenção, mais começamos a perceber que todo trabalho que fazemos é, na verdade, uma colaboração.
Mulheres de todas as idades, tamanhos e culturas, acolhidas pelo recife,
seus cabelos se desfiando em raízes oceânicas.
O mar chama, a terra escuta, enquanto o tempo flutua de volta em ondas silenciosas.”
— Natalie Karpushenko
Tudo colabora: o mar, o corpo, o tempo. O que parecia individual se entrelaça ao tecido de algo maior. A escuta se espalha na água.
Talvez cuidar de si seja também lembrar que nunca estamos sós.



A Lagarta: Pé no chão, raízes
(Se conectar)
Nem sempre as respostas que buscamos vêm da cabeça. Às vezes, elas brotam da terra — num silêncio que vira diálogo quando a gente se permite escutar.
Essa semana, se tiver uma planta por perto — em casa, no caminho, num cantinho da rua — se permite.
Escolhe uma planta e dedica a ela um tempinho. Repara na textura das folhas, nas cores, nas falhas, nos brotos. Se der, toca com cuidado. Respira junto. Vê se ela precisa de algo — água? mais luz? um corte?
Ignora o medo de pagar de gente doida. Se permite estar ali. Se permite escutar. Como quem visita.
Às vezes, a gente descobre o autocuidado em lugares inesperados 👀
O Casulo: Introspecção, reflexão
(Olhar pra dentro)
Esse final de semana, tive uma conversa séria com minhas plantas. A gente sempre conversa enquanto cuido — regar, podar, checar se tá tudo bem — mas, dessa vez, rasguei o peito. Falei em voz alta o que estava travado aqui dentro: não sei o que fazer. Como ultrapassar essa barreira? Como escolher o caminho certo? E como distinguir o que eu realmente quero do que eu acho que deveria querer?
Enquanto cuidava e conversava com elas, elas cuidavam e conversavam comigo:
— Ao tirar folhas secas e galhos amarelados: você precisa cortar o peso morto. Solta o que já não serve — esse apego só te puxa pra baixo.
— Quando quebrei sem querer um galho cheio de flores: a culpa veio automática “Mas ainda tinha flor, tinha botão… não era pra morrer.” Então ela me disse: “Agora já foi. Deixa ir. Acidentes acontecem. A culpa pode servir pra lembrar de cuidar melhor da próxima vez, não pra te martirizar.”
— Na hora de passar pro vaso maior: você precisa se dar espaço pra crescer e se retirar dos lugares que não te cabem mais. Mesmo que eles já tenham te acolhido, já tenham sido bons... agora te apertam. Não te servem mais.
— Ao checar com delicadeza cada canto, cada folha, cada detalhe: é preciso atenção e carinho. Cuidado não é pressa.
— E, claro, ao regar: num solo seco, nada cresce. Você precisa se nutrir. Antes de querer florescer, precisa cuidar da raiz.
— Tá vendo, você já sabe o que fazer.
Na metáfora, tudo é mais simples — se fosse literalmente tirar as folhas, regar o solo, trocar de vaso… problema resolvido. Mas, na vida real, como se transforma essa sabedoria em ação?
A resposta veio suave, no vento entre as folhas: para de pensar tanto. É o excesso de racionalização que te trava. Se você sabe cuidar de mim, você sabe cuidar de você. Às vezes, é no cuidado com o outro que a gente descobre o autocuidado.
Crescer não é um plano de ação — é um processo sensível, intuitivo, natural. Não dá pra colocar os pontos nos is antes de escrever os is. Primeiro vem o movimento, depois o entendimento. Primeiro o solo fértil, depois a flor.
Você não precisa ter todas as respostas agora. Só precisa começar. Arar seu solo. Nutrir. Regar. Podar o que for necessário pra se fortalecer. Trocar de vaso pra se dar o espaço necessário pra crescer. Deixar ir o que já não serve. Estar atenta às culpas que só te levam pra baixo. Ser o cuidado que você precisa.
Você já sabia crescer muito antes de aprender a pensar. O que precisa florescer em você já sabe o caminho. Não vem do intelecto, vem de um lugar muito mais profundo, muito mais ancestral. Cultivar e cuidar é intuição em forma de rotina. É deixar o tempo agir, mesmo quando a pressa grita. É confiar que, ao se dar o que precisa, o resto vem.
Você só precisa começar. Como quem planta. Como quem cuida. Como quem cresce.
A Metamorfose: A transformação, mudança
(Experimentar)
Lembra do vídeo da câmera como espelho que te sugeri lá no Ovo?
Essa semana, o convite é criar a partir de um gesto de escuta.
Escolhe algo fora de você — uma pessoa, uma planta, o mar, seu lápis favorito. Algo que te chame. Algo que queira ser testemunhado.
Se coloca ali com presença. Observa de corpo inteiro. Sem pressa, sem esperar resposta. Só escuta. E então, cria a partir disso. Uma foto, um vídeo, um texto, um desenho...
A criação como escuta. A escuta como espelho.
O outro, às vezes, oferece um reflexo mais nítido do que nosso próprio espelho.
A Borboleta: Voo, produção, realização
(Abrir as asas e voar)
Essa semana, a proposta é transformar aquele momento de presença com a planta da Lagarta (ou qualquer outra conexão que você tenha feito com a natureza) em criação.
🌱 Escreve um poema, uma carta, como se fosse ela falando com você. Desenha, pinta, faz uma escultura de massinha de modelar. Ou, se preferir, responde como você — o que aprendeu, o que sentiu, o que brotou.
Pode ser leve, esquisito, íntimo, engraçado, poético. Pode ser verbal ou não. Só deixa sair.
Às vezes, uma folha observada com atenção vira palavra. E palavra pode virar raiz.
Espero que essa edição te mostre a conversa escondida no silêncio.
Bjs e até quarta que vem <3