Quarta Criativa🦋 #32 O que a masculinidade tóxica nos ensina sobre a tragédia do nascer sabendo?
Edição dedicada aos tropeços que nos deixam com a bunda no chão✨
Ainda não conhece a newsletter Quarta Criativa da crisálida? Quer saber por que essa estrutura pode desbloquear sua criatividade? Tá aqui a estrutura explicadinha e lindinha só pra tu 💖
O.B.S.: estamos nos experimentamos na linguagem sem gênero, o que achas? Qualquer coisa me diz! Estamos aqui pra aprender juntes ;)
O Ovo: onde tudo é possível
(Se inspirar ou referências da semana)
🎥Série: Pequenos Incêndios Por Toda Parte (Little Fires Everywhere) – minissérie criada por Liz Tigelaar (baseada no livro de mesmo título). O que acontece quando viver vira um exercício de controle?
Nada queima do nada. Vemos os caminhos se cruzando, os laços se apertando até virarem nó. Vemos pessoas se envolvendo tanto nas máscaras que vestem, que já não sabem quem são — nem quem são os outros à sua volta. Vemos as rachaduras se acumulando e a preocupação não está em consertar mas em disfarçar.
Cada personagem ali construiu uma persona — a boa mãe, a filha obediente, a artista íntegra — e se agarrou nela com tanta força que deixou de respirar. Não é um retrato do erro mas do que sobra quando não se permite errar.
🎶Música: Velha e Louca de Malu Magalhães é um hino pra quem decidiu seguir cambaleando, assumindo a imperfeição e encontrando a felicidade de estar em paz com quem se é. Malu canta com a liberdade de não se encaixar, de rir de si mesma, de não saber direito — e mesmo assim passar batom vermelho.
“Pode falar, não me importa / O que tenho de torta, eu tenho de feliz”
Passar batom vermelho, aqui, não é vaidade — é afronta. É o riso frouxo de quem tropeça, mas não abaixa a cabeça. É dizer “tô torta, tô rouca, mas tô aqui — e quero ser vista”. Malu não se justifica. Ela se diverte. E nessa irreverência, faz da falha uma pose.
🎨Arte: Colour Outside the Lines (Pinte Fora das Linhas) de Claire Brand. Sem disfarce, sem correção, sem pedido de desculpas.
Claire não fotografa uma maquiagem, fotografa o insistir em se expressar, mesmo quando a sociedade já esperava silêncio. A sombra azul, torta, espalhada, não busca precisão nem disfarce. Ela afirma presença de vida nas linhas do tempo. Onde tudo é perfeito, nada respira.
Essa é uma semana de batom vermelho e sombra azul — não pra esconder, mas pra exibir tudo que há de imperfeitamente vivo em nós.
A Lagarta: Pé no chão, raízes
(Se conectar)
Essa semana, quero te sugerir um aterramento pra descer do “onde eu deveria estar” e pousar no “onde eu tô agora”.
Exercício: Chão
Escolhe um lugar tranquilo.
Tira os sapatos.
Fica em pé, com os dois pés no chão, em equilíbrio, confortável. Fecha os olhos.
Respira fundo algumas vezes e sente o peso do corpo. Os pés e as pernas que te sustentam aqui.
Repara nas partes que encostam no chão. Sente a textura, a temperatura, o apoio.
Sem pressa, sem pressões — só observa tua presença.
Fica uns minutos ali.
No chão.
Presente.
Disponível.
Talvez venha um incômodo. Uma vontade de levantar. Um julgamento.
Talvez não. Só observa.
Depois, se quiser, anota: O que apareceu? Onde você estava? Como esse aterramento te faz sentir?
Tem coisa que só dá pra escutar quando o corpo encosta no mundo. E às vezes, pra entender, a gente precisa primeiro se permitir sentir.
O Casulo: Introspecção, reflexão
(Olhar pra dentro)
Esses dias, minha amiga Sofia (
) me contou que começou a fazer vôlei e descobriu que é muito ruim no vôlei. Ela tava sentindo um desconforto imenso em ser “ruim”, em se perceber uma novata. Ela tropeçava em não se reconhecer ainda naquilo que estava tentando aprender. Aquele mal estar de quem começou algo e já queria estar na linha de chegada, sabe?Na hora, me veio um trecho do livro que estou lendo (Something in the Woods Loves You — Algo na Floresta te Ama (em tradução livre) — de Jarod K. Anderson). Nesse capítulo, o autor falava sobre masculinidade tóxica — o insight atravessa como um golpe no peito, mas ultrapassa a masculinidade. Ele lembrava das aulas de Jiu Jitsu que começou a fazer depois de adulto. E de como via vários caras (também adultos) fortões, machos alfa, cheios de pose, indo fazer aula… e levando uma pisa de um menino magricela de 15 anos. Esses caras nunca mais voltavam.
"A masculinidade tóxica ensina os homens a evitar aprender só pra não terem que sentir a vulnerabilidade de ser um iniciante. (…) Sentir-se forte é mais fácil do que ser forte de verdade.”
E isso — indo além de homens e lutas — vale pra todo mundo que aprendeu que parecer bom é mais importante do que realmente aprender.
Temos medo do “não saber”. Evitamos a vergonha de ser ruim. Performamos segurança antes mesmo de entender o que estamos fazendo. Sem perceber que se proteger de ser ruim em algo é optar pela aparência em vez do mergulho. E pior: é escolher a estagnação.
Aprender exige levar porrada. Ser transformade exige admitir que não sabe. Melhorar exige fracassar. Se você nunca é ruim em nada, você nunca aprende nada novo. Você se protege... e não sai mais do lugar.
“Uma falha integral em nosso sistema e em nossa concepção de masculinidade em particular, surge do fato de não ensinarmos aos homens o valor e a honra de levar uma surra (física, intelectual ou emocional), de perder para crescer, de abandonar a máscara barata e fácil da resistência para ser algo mais do que uma máscara, de ser corajoso o suficiente para aceitar a vulnerabilidade física e emocional e ser transformado por ela.
Não ensinamos o valor de lidar com as emoções profundas, a mágoa, a confusão, nem o valor de aceitar que esses socos emocionais não só vão nos derrubar, como devem nos derrubar. Devem estalar nossos maxilares e nos deixar transformados, nos deixar atordoados e nos fazer despertar dentro de uma nova perspectiva, com nossas bochechas apoiadas no chão frio.”
Então, não: ser ruim não é fracasso. Ser ruim é o início da transformação.
A boa notícia é que não precisa ser tão dolorido assim aceitar o “ser ruim”. Acho que o melhor conselho nesse caso é “Não se leve tão a sério.” Talvez a saída esteja em rir de si. Levar o tropeço com mais leveza. Se divertir na inexperiência — não como quem se conforma com ela, mas como quem sabe que está exatamente onde deveria estar: começando.
Todo aprendizado real vem desse lugar que a gente nos falha quando esquece: a brincadeira. O olhar curioso de criança. A alegria de errar feio (sem vergonha) e tentar de novo.
Aprender, de verdade, é brincar com o não saber. É cair, chorar, rir e levantar de novo — com mais gargalhada, menos pressão e menos ego.
Tá tudo bem ser ruim. O que não dá é se levar tão a sério que não sobre espaço pra crescer. Mas, no fim, só tu podes decidir: Tu preferes parecer que já sabe, ou tá disposte a ser ruim pra, eventualmente, aprender de verdade?
A Metamorfose: A transformação, mudança
(Experimentar)
Essa semana, pensa em algo que você tem vontade de aprender. Pode ser uma coisa que você vem imaginando, pesquisando, flertando — mas ainda não começou de fato.
Agora, vai atrás de pessoas que já começaram. Gente que ainda tá tropeçando, errando, inventando enquanto faz. Pode ser nas redes sociais ou com amigues.
Assiste. Escuta. Observa. Deixa a imprecisão dessas pessoas te contagiar.
Depois, cria algo inspirado nesse processo alheio. Pode ser uma resposta, uma colagem, um remix, uma continuação. É sobre usar o olhar iniciante de outra pessoa como ponto de partida pra tua própria criação. É sobre experimentar a liberdade de ter como expectativa o erro. O ruim. O amador.
O que essa criação te ensinou sobre começar mal? Sobre começar mesmo assim?
A Borboleta: Voo, produção, realização
(Abrir as asas e voar)
Essa semana, o desafio é: errar o máximo que você conseguir.
Sim, é isso mesmo.
Escolhe algo que você nunca fez — ou nunca fez “bem” — e vai com tudo no erro. Faz de qualquer jeito. Ignora as instruções. Bagunça os passos. Desafina. Derrama. Escorrega. Faz torto. Faz feio. Faz errado.
A proposta não é “tentar acertar e ver no que dá”. A proposta é errar como prática. Errar de propósito. Errar com gosto.
Depois, senta com o que sobrou. Olha pra bagunça. Olha pra tua reação. Olha pro medo que apareceu. Olha pro riso também.
O que você aprendeu de novo? O que errar de propósito te ensinou que tentar acertar talvez nunca ensinasse?
Espero que essa edição te inspire a ser muito ruim em alguma coisa.
Bjs e até quarta que vem <3