Quarta Criativa🦋 # 31 to com saudade de tu, meu desejo
Edição dedicada às coisas mais lindas que vivemos✨
Ainda não conhece a newsletter Quarta Criativa da crisálida? Quer saber por que essa estrutura pode desbloquear sua criatividade? Tá aqui a estrutura explicadinha e lindinha só pra tu 💖
O Ovo: onde tudo é possível
(Se inspirar ou referências da semana)
🎥Filme: O Filme da Minha Vida de Selton Melo. Esse é um daqueles filmes que sentimos como quem folheia um álbum antigo de lembranças que não são exatamente nossas — mas poderiam ser.
Essa história acontece no sul do Brasil, em meio a trilhos de trem, montanhas, silêncios e tantos questionamentos. A história costura — com fios de ausência, de descobertas e de um tempo que não para — a volta de Tony à cidade natal depois de se formar na cidade grande. Nos faz refletir sobre o que a gente deixa pelo caminho quando cresce. Sobre o que permanece, mesmo quando já não está. Sobre a saudade como costura invisível entre o que fomos e o que somos.
Pra assistir devagar, com o coração atento, e deixar que as imagens e os sons te atravessem como quem recebe uma carta escrita à mão, há muito tempo.
🎶Música: Lembrança de um Beijo de Fagner. Tem músicas que a gente escuta e, de repente, o tempo todo volta. Lembrança de um Beijo é assim: um forró que pulsa direto na veia da saudade.
“Quando a saudade invade o coração da gente pega a veia onde corria um grande amor…”
Um som que dança entre o peito e a garganta. E a letra — crua, lírica, dolorida — que nos leva a um lugar onde amor e dor rimam e dançam coladinhos (como dizia Caetano, pra que rimar amor e dor?).
É pra fechar os olhos — colocar uma mão no peito, outra na testa — e dançar um forró com a lembrança de um passado que pulsa vivo, presente, dentro do coração…e soltar o chororô. Como toda boa saudade, essa música dói mas também nos lembra que a gente já viveu algo bonito. Que ainda vive. Aqui dentro.
🎨Arte: Teto de Vidro de Josely Carvalho fala daquilo que fica depois da queda. Da memória que mora num cheiro. De uma saudade que não se explica — mas se respira.
Carvalho transforma o olfato em caminho. Cada cheiro carrega uma história invisível, que só se revela no corpo de quem sente.
"Não desejo que cálices quebrados sejam metáforas de momentos despedaçados… mas fragmentos de paixão, angústia, prazer, saudade, desespero, resiliência", escreve Josely.
Essa obra nos devolve o que parecia perdido. Lembrar é também resistir. É sobre o que vive em nós, mesmo depois do fim. Memória como presença. Como diz a artista: “os cacos guardam confidências”.
A Lagarta: Pé no chão, raízes
(Se conectar)
Sabe quando algo no presente faz ecoar algo que já foi? Um cheiro que atravessa o tempo. Um som que abre uma porta invisível por dentro. Um gosto de infância.
O convite de hoje é perceber. Sem forçar memórias. Sem tentar racionalizar. Só percebe quando o presente escorrega e, por um momento, você encontra uma lembrança. Não precisa entender imediatamente — apenas sente o que ainda pulsa.
Se quiser, anota. Uma palavra, uma cor, uma sensação. E depois repara: qual sentido te levou até lá? Foi o som? O cheiro? A textura? E o que essa memória te faz sentir?
Às vezes, a lembrança vem no corpo antes de virar pensamento.
O Casulo: Introspecção, reflexão
(Olhar pra dentro)
Há algumas semanas, escrevi uma carta para um dos meus melhores amigos Roo — que mora em Chicago. Ele não fala português, e eu me vi diante do desafio (e do prazer) de tentar explicar pra ele o significado profundo da palavra saudade — esse sentimento tão nosso, tão intraduzível, tão cheio de camadas.
Esse trechinho da carta, já traduzido do inglês:
"Eu entendo esse sentimento nostálgico, essa tristeza por algo que já passou. Senti isso ao ler tuas palavras. Tento pensar nisso como algo especial — o fato de que vivi coisas tão bonitas que agora me dão saudade. Você já ouviu a palavra portuguesa saudade? Traduzimos como ‘missing something’ (sentir falta de algo), mas é muito mais do que isso. Enquanto “falta” fala de um vazio, de algo ausente, saudade é, paradoxalmente, uma presença. É cheia. Carrega em si tudo o que foi vivido — o afeto, o tempo, a memória, a emoção.
Dizemos que sentimos saudade quando algo empresta o nosso coração pra morar. Sentir saudade é ter algo que já se foi. Mas algo cheio. Cheio de vida, cheio de emoção, cheio de nós. Sentir saudade é ter vivido algo realmente bonito, e olhar para trás, nostálgica, com desejo daquele tempo/lugar/pessoa… que vive plenamente no nosso coração hoje. É um pertencimento. Um carregar eterno no coração.
Saudade é uma das minhas palavras favoritas. Então, quando sinto saudade, não deixo que isso me entristeça completamente. Sinto porque tive a sorte de viver algo bonito — algo que agora posso levar comigo para sempre. Esse tempo/lugar/pessoa pulsa em mim, eternamente. Não deixa de ser triste também. Mas é complexo e cheio. E isso me faz sentir especial."
A beleza do que vivemos permanece viva, mesmo quando se transforma. Saudade é a memória emocional do que nos molda. Traços do que fomos e ainda somos. E talvez também seja um lembrete necessário: seguimos inteiros mesmo quando deixamos pedacinhos de nós pelo caminho. Eles continuam vivendo dentro de nós, pulsando em compasso com o nosso coração, lembrando que aquilo que foi bonito um dia, ainda é — de outro jeito, em outro tempo, aqui dentro.
A Metamorfose: A transformação, mudança
(Experimentar)
Escuta Lembrança de um Beijo de Fagner, que recomendei no Ovo e cria a partir dela. Não é sobre entender a letra ou analisar a melodia — é sobre deixar que ela te atravesse. Perceber o que desperta, o que toca, o que abre por dentro.
Deixa essa música ser semente. Cria a partir do que ela movimenta em ti. Uma memória, uma imagem, uma sensação, um pensamento que surgiu no meio do caminho.
A metamorfose acontece quando algo de fora encontra eco dentro da gente — e vira outra coisa. Tua.
A Borboleta: Voo, produção, realização
(Abrir as asas e voar)
Escolhe uma saudade forte que mora em ti e deixa esse sentimento ganhar forma. Escreve, desenha, borda, canta, dança… do teu jeito.
Esse processo criativo movimenta sensações que poderiam ficar abafadas — e revela o que ainda pulsa por dentro. Mostra como você se relaciona com o que viveu, com o que te marcou, com o que ficou.
Materializar a saudade é uma forma de escutar e honrar o que vive em você. Além de ser uma maneira de tornar visível essa coisa cheia de amor que um dia te atravessou (e ainda atravessa). Pra olhar de novo. Pra sentir de novo. Sempre que quiser.
Criar com a saudade é dar corpo a essa presença invisível que vive em nós.
Espero que essa edição te conecte com uma saudade bonita.
Bjs e até quarta que vem <3