Quarta Criativa🦋 #29 quando entender não é sinônimo de pensar
Edição dedicada às sementes do silêncio ✨
Ainda não conhece a newsletter Quarta Criativa da crisálida? Quer saber por que essa estrutura pode desbloquear sua criatividade? Tá aqui a estrutura explicadinha e lindinha só pra tu 💖
O Ovo: onde tudo é possível
(Se inspirar ou referências da semana)
📚Livro: Pequena Coreografia do Adeus, de Aline Bei. Um romance em versos que não se lê só com os olhos ou com o intelecto — é preciso sentir com o corpo inteiro. A escrita fragmentada, rítmica e pulsante de Aline nos carrega para dentro das frestas da dor, do amor, da perda e da reconstrução, sem precisar oferecer uma explicação racional ou um caminho linear.
🎶Música: Para expandir a experiência dessa edição, Alvoroço de Rachel Reis. Com uma batida gostosa e uma letra cheia de sentidos, a música é um lembrete de que o mundo se entende vivendo, na carne e no osso, e não só nas ideias. Uma trilha sonora perfeita para te acompanhar em momentos de presença e sentir.
🎨Arte: A pintura febril e elétrica de Cecily Brown é um convite a experimentar a arte com plenitude. Em The Girl Who Had Everything (a garota que tinha tudo) de 1998, a artista traz a intensidade gestual do Expressionismo Abstrato misturada com ecos do figurativo — tudo isso em escala monumental (Brown desafia as convenções do Expressionismo Abstrato historicamente dominado por homens, oferecendo uma perspectiva única e visceral). Uma explosão de energia e erotismo que não pede para ser entendida com a lógica fria, mas com o calor dos sentidos e dos sentimentos. Tive o prazer de ver essa obra ao vivo em 2022, quando foi exposta em leilão na Christie’s, em Londres.
Cada centímetro da tela é preenchido com cor e movimento, como se a própria matéria da pintura estivesse viva. Uma obra para nos lembrar de que, às vezes, a compreensão nasce no caos sensorial, não na razão.
A Lagarta: Pé no chão, raízes
(Se conectar)
O convite de hoje é: escolhe uma atividade simples do teu dia — cozinhar, tomar banho, caminhar, arrumar a cama, dirigir — e tenta fazer só isso, com plenitude.
Não há nada para resolver, nada para entender, nada para alcançar.
Começar com algumas respirações profundas pode ajudar a te ancorar no momento presente. Presta atenção nas sensações, nos sons, nos cheiros, no toque das coisas, nos movimentos que fazes. Percebe quando a mente escapar (porque ela vai escapar) e, com suavidade, traz tua atenção de volta para o que estais fazendo.
A ideia não é “esvaziar a mente”, nem “fazer certo”. É só estar presente, do jeito que der, enquanto a vida acontece.
Um banho pode ser só um banho… ou uma prática profunda de presença.
O Casulo: Introspecção, reflexão
(Olhar pra dentro)
Essa semana, minha meditação abriu com a seguinte declaração bombástica: “Não escutamos a mente para encontrar uma solução, mas sim para que ela seja ouvida e compreendida. (…) (essa compreensão) está além do pensamento intelectual — do racional — a única maneira de entender é deixar ir.”
Claro que isso alugou um triplex da minha cabeça desde então.
Vivemos em um mundo onde entender é, quase sempre, sinônimo de pensar. Associamos compreensão à busca de respostas, soluções, explicações lógicas. E a mente se torna um radar ininterrupto (ia escrever incansável mas cansa, ô se cansa), captando e analisando tudo o que experienciamos. Mas tu já se deu conta que existem outras maneiras de compreender além da mente pensante?
O mais engraçado (e honestamente frustrante) é que mesmo quando buscamos algo que deveria nos tirar desse lugar racional— como a presença, o silêncio, o sentir — acabamos arrastando junto essa mania de resolver. A gente fala em meditar, em acalmar a mente e lá vai: sentamos, fechamos os olhos, tentamos focar na respiração… e nos pegamos pensando: Por que estou assim? Quanto tempo de meditação preciso pra resolver isso? Sem perceber, transformamos até o silêncio em mais uma tarefa para a mente racional dar conta.
Só que ali — no cerne da nossa prática de meditação/mindfulness — existe uma passagem secreta tão óbvia que acaba passando despercebida: não estamos ali pra resolver, estamos ali pra ouvir. E ouvimos pra permitir que o que quer que esteja ali — inquietação, tristeza, cansaço, alegria — seja finalmente notado e compreendido não pela razão, mas pela presença.
O problema é que essa passagem secreta só pode ser acessada quando a urgência de entender (no sentido intelectual) cede lugar à experiência plena. A mente que testemunha — não a que analisa — abre espaço para que a compreensão ganhe outra dimensão. O objetivo não é tornar tudo claro como um problema matemático que finalmente encontra sua solução. É abrir mão do pensar e se permitir habitar a experiência com consciência plena. E só assim, presente, é que a compreensão deixa de ser conceito e vira verdade encarnada.
É como compreender o amor. A gente pode listar razões para amar alguém, pode até tentar definir o amor em palavras. Mas nenhuma palavra e nenhuma razão capturam sozinhas a inteireza da experiência. Compreender o amor é uma tarefa que vai muito além do intelecto; é uma dança de corpo inteiro, algo que só se entende vivendo. Experienciando. Testemunhando.
O mesmo vale para nossas dores, os ciclos de transformação, os mistérios do processo criativo. Queremos tanto “fazer sentido”, nomear, reduzir a complexidade a algo que a razão possa enquadrar; mas há compreensões que pertencem à presença. São experiências que só podem ser compreendidas estando lá, inteirxs, permitindo que o momento nos atravesse completamente e nos ensine com sua própria linguagem silenciosa, irracional.
Quando deixamos a necessidade de entender intelectualmente, podemos alcançar um outro tipo de clareza. Uma clareza viva, que não vem de fora para dentro, mas nasce da nossa experiência do agora. É uma clareza que não precisa de explicação, só escuta, só presença.
Entender, às vezes, não é encontrar o caminho — é sentar na beira da estrada e deixar o vento passar por dentro.
A Metamorfose: A transformação, mudança
(Experimentar)
Para esta semana, o convite é pegar algo que já conheces bem — pode ser um poema que amas, uma música que já escutaste mil vezes, uma fotografia que sempre te toca — e revisitá-lo sem tentar racionalizar.
Em vez de analisar ou buscar significado objetivo, deixa o teu corpo e tua intuição serem os guias. O que acontece em ti quando te entregas a essa experiência? Quais sensações surgem? Onde no corpo isso reverbera? Que imagens internas aparecem?
Depois, dá uma nova forma para essa vivência: escreve uma resposta intuitiva (não precisa “fazer sentido”), faz um rabisco, dança um pedaço da música, pinta o papel ou pinta o corpo. O foco é: deixar a racionalização de lado e permitir que algo novo nasça da experiência sentida.
O que acontece quando tu trocas o entendimento racional por uma expressão sentida, crua, viva?
A Borboleta: Voo, produção, realização
(Abrir as asas e voar)
Esta semana, o convite é criar a partir da prática de presença sugerida na Lagarta.
Escolhe um momento dessa experiência vivida e o transforma em criação. Pode ser uma palavra, um verso, uma foto, um desenho, um rabisco, um áudio… qualquer forma que traduza, do teu jeito, a tua compreensão não-racional daquela experiência. Não precisa ser bonito, elaborado ou fazer sentido para mais ninguém além de ti. O importante é deixar que a experiência, que já foi inteira, encontre agora uma expressão autêntica.
É sobre descobrir o que aparece quando tu permites que a presença se desdobre em criação.
Esse é um exemplo de um dia em que deixei minha presença se desdobrar em criação:
Espero que essa edição te encontre presente.
Bjs e até quarta que vem <3