Quarta Criativa🦋 #28 de olho fechado não entra areia
Edição dedicada ao inominável ✨
Ainda não conhece a newsletter Quarta Criativa da crisálida? Quer saber por que essa estrutura pode desbloquear sua criatividade? Tá aqui a estrutura explicadinha e lindinha só pra tu 💖
O Ovo: onde tudo é possível
(Se inspirar ou referências da semana)
🎶Música: Uma sugestão pra expandir o corpo, a escuta e os sentidos enquanto você atravessa essa edição: o álbum Homogenic, da Björk. Denso, visceral e emocionalmente cru, ele pulsa com a tensão entre força e vulnerabilidade. Sintetizadores abruptos, cordas dramáticas, batidas que parecem vir de dentro da terra — tudo nele convida a sentir sem filtrar. Usa como trilha de fundo pra absorver essa edição ou como provocação sensorial pra criar a partir do que ainda não tem nome.
🎥Curta: Outra sugestão pra aprofundar a experiência desta edição é o curta Serpentine, de Bronwyn Maloney. Com uma estética hipnótica e narrativa abstrata, ele mergulha em camadas de sensação e memória sem nunca oferecer explicação. É um filme pra assistir com o corpo — mais do que com os olhos. Deixa as imagens entrarem como sonhos que não precisam ser decifrados. Só sentidos.
🎨Arte: Black Iris (1926) de Georgia O’Keeffe não entrega explicação. Entrega sensação. Ao esticar os limites da forma até que quase deixe de ser reconhecível, O’Keeffe nos tira da lógica do objeto e nos leva direto pra experiência — crua, íntima, silenciosa. É pra sentir com o corpo, com os olhos meio fechados.
A Lagarta: Pé no chão, raízes
(Se conectar)
(Meditação simples pra sentir o que está aqui — sem resolver nada.)
Senta.
Presta atenção na respiração.
O ar entrando. O ar saindo.
Nada pra mudar. Nada pra controlar.Sente o peso do corpo. Os pontos de contato com o chão, a cadeira, a roupa.
Agora leva atenção pra dentro.
Se imagina escaneando teu corpo da ponta da cabeça às pontas dos pés.
Vai notando o que você sente em cada parte do corpo.
O que tem de sensação aí? Tem algum incômodo? Um calor? Um aperto? Um sentimento escondido? Um sentimento em chamas?
Fica com isso por uns segundos.
Sem julgamento. Sem dar nome. Sem decifrar.
Só estar. Só sentir.
Mais nada.
O Casulo: Introspecção, reflexão
(Olhar pra dentro)
B me disse:
"(…)Você tem direito de ficar puta! Você está tão preocupada em ser madura, em compreender tudo, em processar tudo, que não está se permitindo sentir. Seja mais gentil com você mesma. Você não precisa conter ou podar todos os seus sentimentos — você também precisa senti-los sem culpa. Dá vazão!"
Eu sou a primeira pessoa a recomendar refletir, analisar, destrinchar sentimentos — buscar clareza para atravessar da melhor forma uma situação difícil. Mas, mesmo sendo necessário, também existe hora pra isso.
Tentar encontrar nosso caminho enquanto a poeira ainda sobe só faz encher nossos olhos de areia. Tentar caminhar pela poeira é caminhar às cegas. A gente se perde, roda em círculos e, ainda que encontre a saída, a que custo?
Se tivermos coragem de fechar os olhos e paciência para esperar a poeira baixar, poderemos abrir os olhos na calmaria. E enxergaremos o caminho com clareza — sem areia nos olhos, sem mais feridas.
É exaustivo querer decifrar tudo enquanto ainda estamos queimando por dentro. Nem tudo precisa ser entendido de imediato. Às vezes, só precisamos fechar os olhos e sentir.
Existe hora para pensar. E existe hora para sentir.
Me reencontrei com essas palavras que escrevi em novembro de 2019:
“Eu peço calma. Eu quero paz.
Cansei da pressa, de tantas nuvens me tirando o sol, o meu céu azul.
Não me esqueço de quando ouvi que o céu também é natureza — nunca estou longe dele.
Só preciso me trazer para o corpo. Aqui. Agora.
Como é difícil estar presente. Preciso de prática.
Parar às vezes cansa mais que seguir.
Estou cansada. As coisas não mudam — ou eu não vejo. Não entendo.
Eu sei que quando a poeira baixar, vou entender tudo.
Agora tem areia nos meus olhos. E arde.
Sou levada pela tempestade.
Não consigo abrir os olhos. Não sei pra onde ir. Não sei por que estou aqui.
O que foi que eu fiz?
Me encolho de medo.
Meu estômago reclama, embrulhado, enjoado.
Meu peito retrai
e a tentativa de me proteger me sua frio nas mãos e me alfineta a alma.
Tenho uma alma alfinetada, sem olhos, sem boca.
Como habitar o meu corpo?
Como me vestir inteira dele?
Empoderar-me de todas suas partes.
Como que faz?
Sinto que o abandonei. O deixei sozinho.
Ele me pede de volta mas estou tão longe que não escutei.
Não sou. Não me deixo ser. Me esqueço.
Vou embora,
sem querer.
Só quero ficar com você. Quero ver você. Quero sentir você.
Quero sentir que vivo. Que existo.
Onde encontro terra?
Onde pratico terra?
Onde enraizo terra?”
Existe hora pra sentir.
A Metamorfose: A transformação, mudança
(Experimentar)
Essa semana, a proposta é criar a partir de Black Iris, de Georgia O’Keeffe — não como quem interpreta uma flor, mas como quem entra nela. Como quem esquece o nome das coisas e se aproxima só com o sentir.
Pode ser um desenho, uma escrita, uma fotografia, uma textura. O que importa é deixar a razão de lado e permitir que a imagem conduza. Cria a partir do que te atravessa, não do que você entende.
Deixa a forma se dissolver.
E vê o que surge daí.
A Borboleta: Voo, produção, realização
(Abrir as asas e voar)
O que ficou depois do silêncio?
Tem algo aí dentro se mexendo, mesmo que você ainda não saiba o que é?
Essa semana, a proposta é deixar isso ganhar forma.
Não pra fazer sentido. Nem pra resolver. Não pra organizar. Nem pra entender.
Mas exclusivamente pra expressar o que passa pelo corpo. Dar vazão.
Algumas coisas são pré-verbais: vivem num lugar do corpo onde as palavras não alcançam. Pra elas, talvez não sirvam as frases com ponto e vírgula, os argumentos bem postos, as estruturas cartesianas.
O que nasce daí pede outro idioma.
Um som primitivo. Um risco sem plano. Um movimento atravessado.
É bicho. É impulso. É o que escapa do controle.
Cria por aí.
Mesmo que pareça estranho.
Especialmente se parecer estranho.
Espero que essa edição te acalme a cabeça e te desça às profundezas.
Bjs e até quarta que vem <3
Vou tentar criar a partir do sentir e volto aqui pra dizer como foi 🤍