Quarta Criativa🦋 #19 por que você precisa ser melhor?
Edição dedicada às réguas quebradas ✨
Ainda não conhece a newsletter Quarta Criativa da crisálida? Por que essa estrutura vai desbloquear sua criatividade? Tá aqui a estrutura explicadinha e lindinha só pra tu 💖
O Ovo: onde tudo é possível
(Se inspirar ou referências da semana)
🎥Filme: Frances Ha (2012) (trailer) com a maravilhosa Greta Gerwig - e co-escrito por ela. Um retrato sincero (e meio caótico) da busca por pertencimento e autodefinição. Frances quer ser uma artista bem-sucedida, mas o que isso significa? Ela não tem a vida organizada, nem a mínima ideia de como "chegar lá". Enquanto todo mundo parece seguir um caminho “certo”, ela dança meio ao caos—e encontra beleza nisso. Um filme sobre tropeços, recomeços e a liberdade de não estar no topo.
🎶Música: A World Alone – Lorde. "Let them talk" (deixa eles falarem) Sempre haverá quem observe, comente e compare, mas e se simplesmente não importasse? A música fala sobre estar cercado por um mundo superficial, onde tudo é julgamento—mas, ao lado das pessoas certas, isso se dissolve. O barulho continua, mas não importa, “we’re dancing alone” (estamos dançando a sós). É encontrar um jeito de existir só pra si, sem precisar provar nada para ninguém.
🎨Arte: Signs that say what you want them to say and not Signs that say what someone else wants you to say (Cartazes que dizem o que você quer que eles digam e não Cartazes que dizem o que outra pessoa quer que você diga) (1992-93), de Gillian Wearing. O que acontece quando o que pensamos em privado entra em choque com o que a sociedade espera que mostremos?
Nesta série, Wearing pediu a desconhecidos que escrevessem um pensamento verdadeiro em um papel e posassem para uma foto. O resultado distorce o véu entre identidade e aparência—um homem de terno impecável segura um cartaz dizendo "Estou desesperado", um policial sério escreve "AJUDA". Entre a máscara social e a verdade íntima, quem realmente somos?
A Lagarta: Pé no chão, raízes
(Se conectar)
Tem coisas que a gente faz só porque ama fazer. E tem coisas que, sem perceber, começamos a fazer para mostrar que fazemos.
Ler um livro porque ele te prende ou para marcar como lido?
Registrar um momento porque quer guardá-lo ou porque fica bonito no feed?
Colocar uma roupa porque gosta dela ou porque ela vai impressionar?
Hoje, sem pressa, observa:
Quais das suas escolhas são para você e quais são para serem vistas?
O que, no seu dia, você vive por você e não para os outros? Será que isso pode ser um guia para descobrir uma versão mais autêntica de si?
E se, nesse processo, você perceber que faz coisas no automático, que já nem fazem sentido pra você?
O Casulo: Introspecção, reflexão
(Olhar pra dentro)
Você abre o Instagram. Lá está ela. Sua influencer preferida. Perfeita. Pele impecável, vida impecável, carreira impecável. De manhã, pilates com um look combinando e um corpo escultural. Depois, um café numa xícara de cerâmica artesanal, estrategicamente posicionada ao lado de um livro que você nunca leu, numa mesa luxuosa. O feed é uma sequência de viagens, risadas espontâneas e pores do sol cinematográficos.
E aí acontece. Aquela onda.
O modo comparação chega chutando a porta e, antes que você perceba, já está listando tudo o que você não é. Eu não tenho esse corpo. Não tenho essa pele. Não tenho essa casa. Não tenho essa vida. Tá vendo? Eu nunca vou chegar lá.
Mas, às vezes, o movimento vem na direção contrária. Em vez de se sentir pior, você começa a buscar provas de que, no fundo, talvez seja melhor. “Ah, mas ela não tem minha profundidade, duvido que leia os livros que eu leio. Não tem conversas interessantes como as minhas. E esse namorado meio sem graça? Aposto que todo esse romance é só para mostrar no Instagram.”
E é assim que o jogo funciona. Ou nos sentimos inferiores, ou encontramos formas de nos sentirmos superiores. Como se nossa autoestima dependesse de estar acima de alguém.
E parece que a gente faz isso o tempo todo, sem perceber. Você quer ler 50 livros este ano porque ama ler ou para provar que é culta? Quer assistir àquele filme do Godard porque te interessa ou porque quer postar depois? Quer a promoção no trabalho porque ama o que faz ou porque precisa mostrar no LinkedIn que é uma pessoa de “sucesso”?
Se formos mais honestos (por mais constrangedor que seja), muitas vezes a régua invisível está ali, nos guiando. Nos dizendo que só vamos ser válidos quando estivermos acima de alguém, seja por cultura, inteligência, disciplina, beleza, dinheiro ou qualquer outro critério que pareça importante para a gente.
Mas por que não conseguimos simplesmente ser, sem precisar nos posicionar acima ou abaixo?
Essa lógica, quando acontece no feed de domingo à noite, parece que só faz mal mesmo para a nossa saúde mental. Mas isso não afeta só a forma como nos sentimos—afeta também como enxergamos e tratamos os outros. Quando nos prendemos a parâmetros rígidos de comparação, acabamos impondo essas mesmas expectativas sobre quem está ao nosso redor, medindo e classificando as pessoas com a mesma régua que nos sufoca. E se a gente expandir essa lógica ao extremo, o mesmo impulso que nos faz procurar validação através da superioridade também sustenta divisões históricas, disputas de poder e ideologias excludentes. E essa reflexão ganha ainda mais importância agora, com essa onda assustadora de neofascismo que estamos enfrentando mundialmente.
Por ser um mecanismo tão enraizado na nossa experiência social humana, acho que a resposta não é “parar de comparar”, mas passar a perceber quando isso acontece. Observar, sem julgar. “Olha eu aqui de novo, jogando esse jogo.” Só isso já abre um espaço. É assim que a gente começa a quebrar o ciclo.
E quando essa régua começa a perder força, as coisas vão mudando. Talvez você não leia mais porque precisa ser a pessoa mais intelectual do grupo—mas porque aquele livro te instiga, te emociona, te leva para um lugar novo. Você não escolhe mais o filme pelo quanto ele vai impressionar os outros, mas pelo que realmente te diverte. Você não busca mais a promoção no trabalho para provar seu valor, mas porque quer explorar um caminho que faz sentido para você.
E sua autoestima? Imagina o que é ter uma autoestima inabalável. Não porque você é A MAIS bonita, A MAIS inteligente, A MAIS bem-sucedida, A MAIS culta, A MAIS magra, A MAIS sarada, A MAIS criativa—mas simplesmente porque você é. E ponto.
Independente.
Emagrecendo ou engordando. Com ou sem espinhas. Namorando ou solteira. Trabalhando na área dos sonhos ou ainda tentando descobrir o que quer. Nada disso abala sua percepção de si, porque nada disso define seu valor.
E, no fim, soltar essa régua é sobre se sentir melhor consigo mesma e é também sobre soltar a régua para os outros. Permitir que as pessoas sejam quem são, sem precisar encaixá-las em um ranking mental de melhor ou pior.
Nesses tempos em que andamos nos perguntando tanto o que fazer, talvez isso seja um bom começo.
A Metamorfose: A transformação, mudança
(Experimentar)
Se ninguém estivesse vendo, o que você criaria?
Hoje, a proposta é um experimento radical: faça algo e destrua depois (mesmo, hein?!).
Escreva um texto e rasgue.
Faça um desenho e pinte tudo por cima.
Grave um áudio e delete.
Crie algo que só exista por um instante—e depois desapareça.
O que acontece quando a régua some completamente? Quando a criação não precisa provar nada para ninguém—nem para você?
Cria. Solta. Deixa ir.
A Borboleta: Voo, produção, realização
(Abrir as asas e voar)
Se você passar essa semana observando o que faz por você e o que faz para os outros, aqui vai o convite final: depois da reflexão, escolhe uma das coisas que você descobriu que faz apenas para você—e materialize.
Pode ser um café sem pressa, um trecho de música que te pega de jeito, a luz do fim da tarde entrando pela janela. Qualquer coisa que te conecte com você, sem precisar ser validado por ninguém.
Agora, transforma esse instante em criação—do jeito que fizer sentido.
Talvez vire um texto, uma foto, um som, uma cor. O importante é que seja seu.
Que sentimento te traz, algo que existe apenas porque faz sentido para você?
Espero que essa edição te lembre que você não precisa se encaixar em nada. Nem encaixar os outros.
Bjs e até quarta que vem <3