Quarta Criativa🦋 #15 a sociedade do cansaço, da ansiedade crônica, da produtividade como identidade
Edição dedicada ao ócio improdutivo ✨
Ainda não conhece a newsletter Quarta Criativa da crisálida? Por que essa estrutura vai desbloquear sua criatividade? Tá aqui a estrutura explicadinha e lindinha só pra tu 💖
O Ovo: onde tudo é possível
(Se inspirar ou referências da semana)
🎥Filme: Essa semana não poderia ser outra indicação: Dias Perfeitos (trailer) de 2023. Só preciso te dizer que você vai ser levadx em uma meditação poética sobre a beleza e a profundidade que podem ser encontradas nas experiências mais simples da vida.
🎶Música: Time de Pink Floyd (clipe) é a música perfeita pra entrar no mode filosofia e refletir como o tempo pode nos escapar se não estivermos atentos ao agora. The clock is ticking (o relógio não para).
🎨Arte: Uma obra que dialoga profundamente com o tema da semana é Partita a Scacchi (O Jogo de Xadrez), pintada pela italiana Sofonisba Anguissola em 1555. No quadro, a artista renascentista (uma das minhas favoritas) retrata suas irmãs jogando xadrez, capturando um momento íntimo e cotidiano com uma dedicação sublime aos detalhes. Anguissola nos lembra da profundidade das experiências comuns quando as observamos com atenção plena.
A Lagarta: Pé no chão, raízes
(Se conectar)
No Casulo dessa semana, te convido a refletir sobre a vida que você passa no modo automático e a dificuldade de estar presente. O presente, nos dias de hoje, exige prática. Pra entrar no espírito da semana, A Lagarta, então, vem te propor o seguinte desafio:
Esse é desafio level hard: Próxima vez que você estiver numa sala de espera, ou numa fila, ou qualquer outro lugar que te “obriga” a esperar, não pega o celular. Não abre o livro. Nem puxa assunto com alguém. Só espera. Observa ao redor. Escuta os sons. Sente a respiração. E veja quanto tempo você consegue ficar assim antes que comece o tremelique pedindo tela.
Se você não se sente preparadx pro level hard, te ofereço um desafio level easy: próxima refeição que você fizer a sós, deixa tudo de lado e vai comer sem distração: sem tela, sem livro, sem trabalho, sem estudo. Para tudo e vai apenas comer.
Não é fácil, eu sei. Viver o ócio hoje é quase uma arte perdida. Não é algo que vem naturalmente. É uma escolha constante.
O Casulo: Introspecção, reflexão
(Olhar pra dentro)
Dia desses fui buscar Ben na escola e, quando percebi, já estava lá. Não lembro do caminho. Não lembro da música que tocava no carro. Nada. Eu só cheguei. Passei o resto da semana pensando nisso. Em como o piloto automático tomou conta de mim sem que eu sequer percebesse. Já parou pra pensar nisso? Quanto das nossas vidas a gente deixa “passar despercebido”? Quanto da tua vida tu vive sem realmente viver?
É claro que esse modo automático é necessário. Nosso cérebro não daria conta se tivesse que processar conscientemente cada pequena coisa que fazemos. Escovar os dentes, dirigir, usar uma tesoura — tudo isso ele aprendeu a fazer “sozinho” pra poupar energia. E é importante. Não somos infinitos. Precisamos economizar nossa energia mental pras coisas que realmente importam. O que me leva à grande questão: o que estamos deixando no automático? E o que é que realmente importa pra você?
Vivemos num ritmo tão acelerado que até as coisas importantes acabam escapando. A gente virou uma extensão da sociedade do cansaço, da ansiedade crônica, da produtividade como identidade. Quando foi a última vez que você realmente viveu a experiência de tomar banho? Só curtindo a água quente, sem planejar o amanhã, sem pensar no trabalho, na reunião, no projeto? A verdade é que nos acostumamos a estar sempre ocupados, e agora até 10 minutos sem “fazer nada” parecem uma perda de tempo imperdoável. Criamos essa ideia de que tempo parado é tempo “perdido”. Mas, no fim das contas, o que é que tá sendo perdido de verdade?
A nossa atenção tá tão fragmentada, e nosso tempo tão cronometrado, que até esperar virou insuportável. Fila do mercado, sala de espera, sem um celular ou um livro nas mãos? Parece impossível. A gente nem lembra mais como é só esperar. Sem objetivo, sem distração. Qual foi a última vez que você não fez nada? Só existiu? Sem pensar que era pra treinar a criatividade ou “desacelerar” porque viu numa dica de mindfulness. Só… pelo nada. Porque eu, honestamente, não consigo me lembrar.
Por esse motivo mesmo que esse ano eu coloquei uma meta de aprender a fazer nada - praticar o ócio. Parece um objetivo simples, mas é quase um ato revolucionário. É certamente contracorrente em uma sociedade que te impõe valor baseado no seu nível de produtividade. O ócio vem amarrado à uma sensação de “perda” de tempo. Que você deveria estar sendo produtivx. Que tem tanta coisa que você “deveria” estar fazendo. Trabalhe enquanto eles dormem, não é isso?
Trabalhe, não durma, fique rico e gaste tudo que ganhou tentando consertar a saúde que você destruiu no processo.
Quando a gente se dá ao luxo absurdo de parar, a culpa bate forte. Fazer nada virou um privilégio, esse desperdício de tempo que ninguém acha que pode se dar. Mas o ócio é importante. É uma maneira de nos reconectarmos com o que importa, de nos ouvirmos, de vivermos.
Tu sabias que a média do brasileiro é passar cerca de 9h por dia nas telas?? 56,6% das horas acordadas de acordo com a pesquisa Digital 2023: Global Overview Report da DataReportal. Acordado, o Brasil passa mais tempo com telas do que sem elas. Há alguns anos, comecei a perceber isso em mim. Eu estava absurdamente conectada às telas e desconectada de mim. Então comecei a me desafiar: a criar momentos sem celular. No início, era só um esforço pra ficar longe do buraco negro das redes sociais. Mas, com o tempo, fui descobrindo coisas que me traziam pro presente. Cultivei hobbies que eu achava que não cabiam na minha vida, como bordar e crochetar.
Essas práticas viraram a minha forma favorita de me reconectar ao presente. Quando estou bordando, estou completamente focada. A cabeça fica quieta. O corpo se concentra no movimento. E, no final, eu ainda saio vestida da minha própria presença: um casaco, uma bolsa, um gorro, um vestido cheio de borboletinhas bordadas… Cada peça é o resultado de tempo, paciência e atenção dedicados ao momento.
Não dá pra escapar do piloto automático completamente. Ele é necessário, claro. Mas, se a gente não fizer questão de estar presente nas coisas que realmente importam, não estaremos. No risco de vestir o clichê: a vida acontece no presente. O futuro não existe. O passado é só memória. A vida mesmo só existe aqui, agora. Então, respira fundo. Faz uma pausa. E pergunta pra você mesmx: a que quero dedicar meu presente hoje? O que importa pra mim hoje? E de hoje em hoje, a gente faz uma vida inteira.
A Metamorfose: A transformação, mudança
(Experimentar)
É fácil passar pelos dias no automático, vendo o mundo sem realmente enxergar. A Metamorfose dessa semana te convida a experimentar um olhar diferente sobre a rotina, reimaginando o que parece comum.
Escolha um pequeno momento da sua rotina que você vive no automático. Pode ser escovar os dentes, levantar da cama quando acorda, arrumar a criança pra escola ou fazer o jantar. Escolhe só uma pra focar a intenção de estar presente durante essa semana. Se essa fosse a última vez que você amarrasse seu cadarço, como você o faria?
É sobre redescobrir o que já existe no seu dia-a-dia. Presta atenção. No fim da semana, o que aconteceu com a sua percepção sobre esse ato simples demais pra ser notado? Quem sabe você pode traduzir essa percepção em algo material: um desenho, um recorte, um texto…
O que acontece com as ações “desimportantes” quando você as dedica seu tempo e atenção? Mudou alguma coisa? Me conta, to curiosa.
A Borboleta: Voo, produção, realização
(Abrir as asas e voar)
Essa semana a borboleta vem pra te lembrar de se inspirar com teu cotidiano. Com as coisas mais normais de todas. As coisas que menos preenchem nosso espaço mental.
Escolhe uma delas pra dedicar um momento da sua atenção total. Um momento pra criar pensando nelas, no formato que você preferir. Uma carta de amor para a vida no presente. Pra apreciação do mundano, da rotina - das coisas que são inevitavelmente as mais presentes da sua vida.
Talvez a borboleta esteja aqui hoje pra nos lembrar que tudo tem beleza, basta que a gente nos permita vê-la. Ela realmente está nos nossos olhos 👀 (um balde de clichê brega para todos nós hoje, até ele tem beleza).
Espero que essa edição te inspire a orientar sua atenção para as coisas que mais importam pra você. Vamos direcionar essa nossa energia limitadíssima com mais intenção, né?
Bjs e até quarta que vem <3